segunda-feira, 9 de março de 2020

A MINISSAIA - A MELHOR PARTE DOS ANOS 60 DEPOIS DOS BEATLES!

Em 1965, a Carnaby Street, no centro de Londres, era o centro da cultura pop emergente, o centro do mundo. Esta rua fervilhava de ideias inovadoras. Jovens com roupas coloridas percorriam a Carnaby, para cima e para baixo, não deixando ninguém indiferente.
Foi precisamente ali que uma jovem inglesa deu ao mundo uma peça de roupa que rapidamente se tornou famosa – a minissaia. E então, as pernas saíram para além da rua.
Para Mary Quant, a moda era tudo menos aborrecida. Segundo a estilista, os jovens deviam vestir roupa adequada à sua própria personalidade e espírito. Nada de imitar os mais velhos – o que se queria era um vestuário divertido, irreverente e, também, barato.
minissaia não fugia à regra. Criada em 1966, desde logo foi motivo das mais diversas opiniões e controvérsias. Se havia quem a considerasse como uma grave ofensa aos bons costumes, havia os que a adoravam e idolatravam. O que é certo é que uma minissaia e umas botas até o joelho foram rapidamente adotadas pelas garotas mais jovens, sedentas de algo que quebrasse todas as tradições. Então o mundo realmente estava mudando. Eram pernas por todo lado! Depois de séculos cobertas, elas eram agora mostradas sem pudor, tal como são. E para a alegria geral de (quase) todos, pouco a pouco, as bainhas foram começando a subir.
Modelos famosíssimas como Twiggy, Jean Shrimpton, Pattie Boyd, Peggy Moffit, Penelope Tree e Grace Coddington – todas aderiram à nova peça. Lulu e Twiggy foram apenas algumas das modelos que ajudaram a crescer a fama da peça, espalhando a invenção de Mary Quant um pouco por todo o mundo. Sob a influência da pop art, motivos dos mais diversos serviam de inspiração para criar as mais irreverentes minissaias. Meias e collants divertidos completavam o figurino.
Esta foi uma peça de vestuário que marcou, decisivamente, os anos 60, trazendo consigo a libertação sexual na Inglaterra. As mulheres podiam agora assumir, de forma livre e consciente, o seu corpo e a sua própria sexualidade, longe das regras ditadas pelos homens. Elas agora tinham poder de decisão sobre o que podiam ou não usar, sobre o que podiam ou não fazer. A minissaia tornou-se assim, uma maneira das jovens exprimirem a sua nova liberdade. E ainda hoje continua a ser um motivo para o desvio de muitos olhares.Resultado de imagem para CARNABY STREET 1965
Na metade dos anos 1960, a maioria das faculdades e universidades não permitia que mulheres circulassem após o toque de recolher, e ser flagrada namorando ou fa­zendo sexo podia levar a suspensão ou expulsão. Mas, no início da década seguinte, muitos alo­jamentos em universidades como Harvard e Radcliffe se tornaram mistas.Resultado de imagem para CARNABY STREET 1965
O início da revolução sexual correspondeu ao afrouxamento das leis de censura. Pela primeira vez, o Código de Produção Cinematográfica norte-americano permitiu a exibição de seios na tela do cinema, no longa de Sidney Lumet “O homem do prego”, que estreou no Festival de Cinema de Berlim em junho de 1964, mas só conseguiu distribuição nos Estados Unidos em abril de 1965 devido à polêmica. Meses depois, a Suprema Corte norte-americana julgou se o romance erótico de John Cleland e Fanny Hill, em “Memórias de uma Prostituta” (1748) era obsceno, e decidiu que não, desde que não fosse comer­cializado apenas por seu “apelo lascivo”.
A revista Playboy, de Hugh Hefner, tentava tornar a sexualidade tão sa­dia quanto a imagem de qualquer garota normal, e aproximá-la da ascensão social e do intelectualismo. A publicação intercalava ensaios fotográficos de nudez com resenhas de todos os produtos necessários para os prazeres mas­culinos em uma época de prosperidade sem paralelos (aparelhos de som, carros esportivos etc.), além de trazer entrevistas com astros da atualidade como Martin Luther King Jr, Malcolm X, Marshall McLuhan, Lenny Bruce, os Beatles e Bob Dylan.
Mas o maior símbolo de toda essa era foi a minissaia. Nos anos 1800, as leis exigiam que as mulheres usassem saias compridas e anáguas, proibindo-as de vestir calças, botas ou macacões. Depois que o público feminino conquistou o direito de votar, em 1920, jovens rebeldes e liberais ergueram suas bar­ras das saias até os joelhos, mas o comprimento voltou a aumentar durante a depressão. As saias encurtaram novamente ao longo dos anos 1950 e tinham retornado para o joelho no início da década de 1960, quando a designer de King’s Road Mary Quant competiu com a Paris de André Courrèges e Pierre Cardin para ultrapassar os limites. A coleção de Courrèges mostrava um pouco da coxa, e o designer insistia ter criado esse novo modelo. Quant disse: “Foram as garotas em King’s Road que inventaram a mini. Eu estava fazendo roupas sim­ples, fáceis e jovens com as quais a pessoa podia se mexer, correr e saltar, e nós as fazíamos no comprimento que as clientes queriam. Eu as usava bem curtas, e as clientes diziam: ‘Mais curta, mais curta”.
E foi Quant, ainda, quem deu o nome à saia, em homenagem ao seu carro favorito, o Mini. Durante o verão, Quant levou sua última coleção para os Estados Uni­dos e saiu em turnê por lojas de departamento em diversas cidades com um show de moda chamado “Youthquake”. Suas modelos usavam saias que dei­xavam vinte centímetros de perna à mostra acima do joelho, enquanto dan­çavam frug e twist ao som de rock tocado por uma banda de Milwaukee chamada The Skunks (todos de cabelo preto com uma mecha branca descolorida no meio, tocando a canção intitulada “Youthquake” composta para a ocasião).
Mas o mundo não estava necessariamente pronto para essa peça de roupa como Jean “The Shrimp” Shrimpton logo descobriria. Primeira modelo de fama internacional, Shrimpton voou até Melbourne, na Austrália, para o Victoria Derby em 30 de outubro. Segundo a lenda, seu estilista, Colin Rolfe, ficou sem material, por isso seu vestido acabava dez centímetros acima do joelho. Shrimpton assegurou a ele que ninguém iria perceber. Um tempo depois, ela recordou: “Fazia calor no dia da corrida, por isso não me incomodei em usar meias. Minhas pernas ainda tinham o bronzeado do verão, e como o vestido era curto, estava longe de ser formal. Não coloquei chapéu nem luva pelo simples motivo de não ter nenhum dos dois”. Ela também usou um relógio masculino. Logo as mulheres no hipódromo come­çaram a gritar ofensivamente para ela, enquanto os homens assobiavam ex­citados. Nos dias que se seguiram, a imprensa a crucificou por seu figurino escandaloso. A Austrália era mais conservadora que as outras antigas colônias bri­tânicas, mas os Estados Unidos também levaram algum tempo até aceitar a moda mais curta vinda do Reino Unido. Frequentadoras ultramodernas da cena nova-iorquina usavam minissaia no exclusivo clube noturno Ondine (local muito frequentado por Warhol), mas a maioria dos colégios securidaristas ti­nha regras rígidas de vestuário. A North Hills High School, de Pittsburgh, de­cretou que as saias não podiam ficar acima do meio do joelho. Shorts, calças e saias lápis eram proibidos, assim como jeans (para ambos os sexos).
O acessório que andava de mãos dadas com a minissaia era a bota de vinil até o joelho, a “gogo boot”, popularizada por Barbra Streisand na edição de agosto da Vogue e modelos famosas como Jane Birkin. Criada pelos suspeitos de sempre, Courrèges, Saint Laurent e Quant, no Reino Unido, a bota se chamava “kinkyboot” [bota pervertida], pois era origi­nalmente usada por dominatrixes na cena sadomasoquista underground.
Dançarinas em programas musicais de TV como Hullaballoo e Shindig! usavam essas botas, assim como a cantora do grupo We Five (“You Were on My Mind”). Mas as botas foram imortalizadas pela música que Nancy Sinatra gravou no dia 19 de novembro em colaboração com o compositor e produtor Lee Hazlewood. Para “These Boots Are Made for Walkin’”, Hazlewood a in­centivou a cantar como “uma garota de 14 anos que sai com caminhoneiros”, o que resultou em um dos grandes hinos da liberação feminina. Depois de prometer usar as botas para pisar naquele homem a que se refere na música, Nancy Sinatra em seguida inverteu “Run for Your Life”, de John Lennon: na versão do Beatle, ele alerta sua “garotinha” que é melhor ela andar na linha; na de Nancy, porém, é ela quem pressiona seu “garotinho”.
“Hoje em dia a minissaia faz parte desde uniforme escolar, uniforme de tenista, e pode ser usada das mais variadas maneiras. Há quem gosta de usar com salto, outras não usam por nada, e a altura da saia varia. O que em 1960 foi um choque, já faz parte dos armários, e virou ícone fashion. Toda mulher tem uma minissaia na gaveta, é um item perfeito para várias ocasiões. No início uma revolução, hoje em dia algo usual. As minissaias começaram, e continuam ousadas. Símbolo de luta das mulheres, hoje é marca registrada do público feminino”. Camila Gregori

IMAGEM DO DIA - JEANNIE É UM GÊNIO - E QUE GÊNIO!!!